quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A internet na sala de aula

A educação não poderia ficar de fora da revolução digital. Muitas escolas já perceberam a eficácia das novas tecnologias no ensino e levam os computadores para dentro da sala ou ensinam os alunos a pesquisarem corretamente usando a internet como ferramenta.
Mas os especialistas alertam: os professores e pais têm de se atualizar e conhecer a fundo esses novos recursos. Trabalho difícil em meio ao conflito de gerações que se desenha: de um lado os alunos, acostumados a banda larga e ao celular; de outro, professores que um dia desejaram um moderno videocassete em sala.



Para a mestre em educação Márcia Di Palma, do Núcleo de Pesquisa de Práticas Pedagógicas Interativas da Universidade Tuiuti do Paraná, a solução deste dilema está na inclusão e capacitação do professor. “A preparação vem com o uso. Para se criar com um novo recurso tecnológico é preciso primeiro dominá-lo. É um processo natural”, afirma.
E os números mostram que os professores precisam ser incluídos no acesso e domínio da tecnologia. Segundo o último Censo dos Profissionais do Magistério da Educação Básica (2003), realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), dos 1,54 milhões de professores entrevistados, 585 mil têm computador em casa, contra 700 mil que não têm contato com o equipamento.
“Se você não tem capacitação, o espaço do laboratório de informática é subutilizado”, comenta a professora Márcia, pesquisadora do uso de tecnologia em sala há 14 anos.

Aprendendo melhor

“As crianças conseguem entender melhor o conteúdo quando veem um vídeo, uma animação, do que quando ouvem falar sobre o conteúdo ou veem uma ilustração no livro”, conta a professora Sílvia Regina Darromqui, que usa vídeos e conteúdo que baixa da internet para ensinar ciências na Escola Estadual Victor do Amaral, em Curitiba.
Sílvia usa uma televisão com porta USB, que permite exibir material armazenado em um pen drive em tevês apropriadas a essa função. Ela conta que as noções de Física e Química ficam mais reais para os alunos da 8ª série com o uso da tecnologia. “Consegui mostrar, por exemplo, a primeira vez em que um elétron foi filmado, apresentando um vídeo do YouTube (http://www.youtube.com/), diz Sílvia.
A professora diz que o uso de conteúdo disponível na internet em sala de aula desperta a curiosidade dos alunos para procurar por conta própria mais conteúdo na rede. “Eu seleciono com cuidado todo conteúdo que apresento e eles sempre perguntam onde podem encontrar mais sobre aquele assunto”, afirma.
Na escola Positivo Jardim Ambiental, pelo menos uma vez por semana as aulas são na frente do computador. Disciplinas como Física e Biologia são ensinadas no monitor, com animações e simuladores. “Acessamos, em sala, um portal que simula um microscópio eletrônico, um equipamento extremamente caro para se ter em uma escola. Pelo site os alunos visualizam lâminas reais de tecidos”, diz Juliana Augusta Dadaz, professora de informática da escola.
As alunas da 6ª série do colégio, Izabela Mara Martins e Bruna Isadora Bastos, 11 anos, dizem que as aulas de ciências na frente do computador ajudam a entender melhor o conteúdo. “Você já tem uma visão definida do que o professor está falando, não precisa ficar imaginando”, diz Bruna.
As alunas contam que já utilizavam a internet em casa, mas que o uso é mais para entretenimento do que para os estudos. Mesmo assim, a rede é a única fonte de pesquisa. “Minha mãe prefere que eu faça pesquisa com livros, mas com a internet é mais fácil e rápido, você digita e já aparece tudo”, diz Izabela.
A própria aula de informática ganhou nova roupagem. Se no começo dos anos 1990 se aprendiam princípios de MS-DOS e editor de texto em monitores de tela verde, hoje, as crianças da 5ª série têm noções de organização da informação e, na 6ª série, aulas de pesquisa avançada na internet e de produção de vídeo. “Essa é uma geração hi-tech. Eles dominam o equipamento e têm muita facilidade para aprender”, conta Juliana.
Informação filtrada
A preocupação com a veracidade das informações encontradas na rede ou o conteúdo inapropriado que os sistemas de busca podem trazer em uma simples pesquisa, gera relutância em alguns educadores sobre o uso da internet.
Para ajudar a orientar a navegação pela rede, alguns portais trazem conteúdo preparado por pedagogos e especialistas, dirigidos a professores e outras informações “extraclasse” para os alunos.
“As escolas, em geral, não estão preparadas para oferecer sozinhas um material multimídia e fazer a orientação do aluno para navegar”, diz Betina Von Staa, coordenadora pedagógica da tecnologia educacional do Grupo Positivo, que mantém os portais Educacional e Aprende Brasil, nos quais as escolas cadastradas podem acessar material de apoio, montar blogs para os professores, manter projetos on-line e até manter projetos com escolas de outras partes do país.
Segurança
Na infinidade de informações que a internet dispõe ao usuário, o que há de melhor e de pior se mesclam. Por isso, é preciso critério e informação para não ter problemas. “Comparo a internet com uma imensa banca de revistas. Tem de tudo, mas qual você vai comprar e como você vai escolher é um problema”, diz a especialista em Tecnologia na Educação, professora Gláucia da Silva Brito, da Universidade Federal do Paraná.
A pesquisadora defende que o professor deve estar preparado para orientar os alunos com relação às pesquisas e à veracidade do conteúdo que encontram. “O professor precisa saber, por exemplo, identificar quando uma pesquisa é mera cópia de conteúdo da internet. Mas isso não é propriamente um mal exclusivo da rede, na minha época os alunos faziam isso com a Enciclopédia Barsa. É uma questão cultural”, comenta.
Gláucia afirma que o papel do professor na sala de aula com a entrada das novas tecnologias não se altera. A sua função ainda é educar e não ser um mero instrutor. “Nunca será papel do professor repassar informações, mas ensinar o aluno a ter senso crítico sobre o que ele observa. Há sete anos discutíamos qual tecnologia poderíamos utilizar em sala de aula, hoje pensamos em como usar o máximo das tecnologias disponíveis”, relata.
A advogada e pedagoga especialista em direito digital do escritório Patrícia Peck Pinheiro Advogados, Cristina Sleiman, co-autora do livro Direito digital no dia-a-dia, relata casos sobre os riscos do mau uso da internet pelos jovens, que a utilizam mais para o entretenimento.
Para Cristina, os pais e os professores devem sempre intermediar o acesso do aluno à rede.“É preciso orientar a criança desde cedo, pois elas têm esse contato ainda pequenas. Temos de formar a cidadania digital, a criança precisa saber que ela pode ser tanto vítima quanto infrator na internet”, afirma.
A especialista diz que o primeiro passo para essa educação crítica é pais e educadores conhecerem as ferramentas. “Os pais precisam saber o que é o Orkut, o MSN, o Youtube. Só conhecendo bem as ferramentas é que poderão monitorar e orientar o uso saudável da rede”, opina.

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